Resenhas

Por Henry Burnett

"Roberto Machado não raro soltava uma boutade: dizia que seus livros não eram “uspianos” e que, na verdade, ele os escrevia como reação àquele “modelo”, que talvez considerasse sisudo, ou sinônimo de uma centralização que, mesmo quando Roberto ainda estava entre nós, já não dizia muito sobre a filosofia brasileira do século XXI. O que nos divertia era que a tirada provocativa esbarrava na opinião de outra professora, também “anti-uspiana”, a seu modo, para quem os livros de Roberto eram sobretudo... uspianos. Foi a primeira lembrança que me veio à mente quando comecei a ler Proust e as artes (Todavia, 2022), publicação póstuma dessa grande figura que nos deixou em 2021, restando uma lacuna impossível de preencher."

Por Leonardo Silva

“Hanio abriu os olhos. Pensou estar no paraíso, pois a luminosidade ali era intensa. Mas a forte dor na nuca persistia. Dor, no paraíso, não podia ser.” (MISHIMA, Yukio. Vida à venda. Trad. Shintaro Hayashi. São Paulo: Estação Liberdade, 2020, p. 9). Dessa maneira Yukio Mishima começa a história de Hanio Yamada, um jovem, de 27 anos, promissor copywriter de uma agência de publicidade, em Tóquio, que, após uma tentativa de suicídio, oferece a própria vida num anúncio de jornal. Abrir os olhos é algo tão trivial quanto abrir o jornal e lê-lo, no entanto, quantas decisões estão supostas na trivialidade desse gesto, quantas atividades e obrigações recrutam as energias e as atenções de todos nós ao longo de um dia, ainda que um dia completamente rotineiro e comum?"