Últimos artigos

Por Gabriel Marotti Ricardo

"Atrás do slogan fascista Brasil acima de tudo, Deus acima de todos – utilizado por Bolsonaro –, houve todo um apoio expressivo das igrejas neopentecostais que, em nome de valores morais, cristãos e patrióticos (aos gritos de “Deus, pátria e família”), contribuíram com um processo de militarização do governo federal e suas instituições políticas. Neste artigo buscarei identificar aspectos da subjetividade militar e armamentista no contexto da cultura gospel, isto é, não necessariamente partindo da principal fonte das mensagens cristãs, a bíblia, mas demonstrando como a música gospel atua como importante meio de difusão de subjetividades que orientam as massas evangélicas em direção a estetização da guerra."

Por Quésia Olanda


"mãos de costureira

escrevo como quem costura uso linha, tecido, agulha

entrelaço bordo tramas outras outro tear

na teia que se veste de palavras

retalhos

escrever fragmentado em retalhos

fazer do caderno, poesia confissões

diário.

aprender com a escrita a ser inacabado lembrar que o processo ecoa importa mais que o resultado."


Por Quésia Olanda

"É com a poesia musicada por Estrela Leminski que dou início a essa jornada. Jornada marcada por muitos afetos, os quais tentarei transmitir. Razão e sentidos são questões recorrentes na história da filosofia, uma discussão legítima e intrigante, que expandiu a rota que estava traçando – não em busca de uma resposta concreta, mas de reflexão e contribuições. Para me auxiliar na estrada, coloquei no tocador de música a canção citada, e durante a escuta fui levada a muitas perguntas e dúvidas, transformando-as nesta escritura."

Por Hugo Vedovato


"Não há dúvida de que há de se encontrar

um mundaréu de sentimentos –

muitos dos quais senão os mesmos –

na música daqui, na dali e na de acolá

e na de ainda mais p’ra lá.

Ô, não se é nenhum biruta por falar

que tem do que fooor

em música de qualquer lugar."

Por Henry Burnett

"Roberto Machado não raro soltava uma boutade: dizia que seus livros não eram “uspianos” e que, na verdade, ele os escrevia como reação àquele “modelo”, que talvez considerasse sisudo, ou sinônimo de uma centralização que, mesmo quando Roberto ainda estava entre nós, já não dizia muito sobre a filosofia brasileira do século XXI. O que nos divertia era que a tirada provocativa esbarrava na opinião de outra professora, também “anti-uspiana”, a seu modo, para quem os livros de Roberto eram sobretudo... uspianos. Foi a primeira lembrança que me veio à mente quando comecei a ler Proust e as artes (Todavia, 2022), publicação póstuma dessa grande figura que nos deixou em 2021, restando uma lacuna impossível de preencher."


Por Henry Burnett

"Li entre arrebatado e ligeiramente incomodado o conjunto de textos publicados na revista Piauí ao longo de vários meses, antes de ver alguns daqueles vídeos que ele próprio captou desde a primeira manhã de sua estadia em Belém, da janela do apartamento onde se hospedou. Relidos agora em versão revista na edição em livro, Arrabalde: em busca da Amazônia [Companhia das Letras, 2022] me causou menos incômodo; ainda assim, tentarei sintetizar aqui aquela dupla sensação inicial."


Por Alexandre Squara

"A cidade de Manoel de Barros, ao contrário do que as primeiras impressões podem indicar, é futurista. O poeta mato-grossense forjou em sua obra desenhos de vertigem, que se disfarçam de poucas linhas para revelar – à medida que se adentra seu espaço – a complexidade característica de quem se lança em busca do Nada. Mas, por enquanto, iremos apenas à um bairro desta cidade, O Livro sobre Nada, de 1996, é uma das mais densas incursões nos vacilantes solos do Nada."


Por Danilo Mendes de Oliveira

"Então o que se pode esperar da arte talvez seja o encontro de referências que remontem à tradição da própria arte. O incômodo de se pensar que as necessidades do mercado estejam ditando a forma como o cinema seja produzido, talvez se dê pelo fato de que os signos do próprio cinema estejam sendo modificados ou até mesmo esquecidos. No entanto, como se pode ver através do filme Cruzada, ainda se enxerga elementos que remontam a uma tradição dentro dos filmes épicos de guerra, mesmo quando se fala em uma superprodução."

Por Leonardo Silva

“Hanio abriu os olhos. Pensou estar no paraíso, pois a luminosidade ali era intensa. Mas a forte dor na nuca persistia. Dor, no paraíso, não podia ser.” (MISHIMA, Yukio. Vida à venda. Trad. Shintaro Hayashi. São Paulo: Estação Liberdade, 2020, p. 9). Dessa maneira Yukio Mishima começa a história de Hanio Yamada, um jovem, de 27 anos, promissor copywriter de uma agência de publicidade, em Tóquio, que, após uma tentativa de suicídio, oferece a própria vida num anúncio de jornal."

Por Henry Burnett

"O que eleva uma opinião “polêmica” à condição de “crítica musical”? Ou, em outro lugar, o que permite que um “crítico” atravesse a vida nessa condição sem jamais falar mal de um disco sequer? Questões simples de responder, mas difíceis de justificar. Rapidez, excitação, audiência, “cordialidade” e afins. Abre-se a porteira para um assunto qualquer por meio de uma matéria veiculada num grande e ambíguo jornal. De qualquer lugar da internet os comentários pululam no fim da página ou uma réplica no dia seguinte não deixa o assunto, que está bombando, morrer. O editor, sempre atento, é atraído não pelo debate interno das “ideias”, mas pela repercussão. Pronto, nasce um 'crítico'"

Por Gabriel Dib Daud De Vuono

"En 2021 celebramos el centenario del nacimiento del pensador y maestro brasileño Paulo Freire que nos hace recordar su trayectoria y aportes a la construcción de un proyecto transformador de sociedad de base popular. En esta ocasión es oportuno discutir las ideas de Paulo Freire sobre la formación de una educación crítica y liberadora". 

Por Francisco Fontanesi Gomes

"Giueseppe Arcimboldo (1527 – 1593) talvez seja um dos meus artistas italianos preferidos de todos os tempos. [...] Arcimboldo é uma estrela que se destaca completamente fora de sua constelação. Seu brilho, que parece tão estranho e inconstante, quando observado de perto chega a nos cegar por um breve momento de tão assustadora a sua capacidade criativa. Não apenas nos agrada, nos incomoda."

Por Henry Burnett

"Os extremos nunca parecem o melhor caminho, mas estão cada vez mais na ordem do dia, logo é preciso não se acovardar. Não sei se é um caso extremo esse debate mais recente envolvendo a canção “Com açúcar, com afeto”, composta por Chico Buarque a pedido de Nara Leão em 1966. O próprio Chico minimizou a repercussão de sua fala em entrevista ao Brasil 247: “Achei que foi uma reação absurda. Não havia motivo. Não imaginei que fosse suscitar alguma polêmica, alguma controvérsia. Eu disse que não cantava mais “Com Açúcar, com afeto”, como de fato não canto há muitos e muitos anos. E um artista deixar de cantar uma música, não me parece uma notícia”.

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